poesia de Margarete Solange
Caminhei
levada pela multidão.
Sem
piedade me conduziam
Violentos
e injustos homens
Com
desejo cruel de apedrejar-me.
Defender-me
não podia.
Implorar
não resolveria.
Segui
pelo vale da sombra da morte.
Não
podia levantar meu rosto.
A
vergonha surrava-me as faces.
O
desprezo daquela gente era como facas agudas
Retalhando
minha alma,
Apunhalando
minha sangrenta ferida.
Se
em adultério fui apanhada,
Que
justo cumpridor da lei me inocentaria?
A
morte era certa,
Meu
corpo desfalecia
Enquanto
seguia arrastada pela multidão.
Não
haveria para mim perdão?
Hipócritas!
Com
corações cheios de impurezas,
Declaram-me
culpada.
Com
traves em seus olhos,
Julgavam
não haver para mim perdão.
Sepulcros
caiados!
Quem
pode suportar o que carregais no íntimo?
Mas
o justo chamado Jesus
Seria
o juiz que me daria a sentença.
Haveria
no seio de um justo
Misericórdia
para uma mulher adúltera?
Muitos
me acusavam,
Ninguém
me defendia.
Com
olhos fixos no chão
E
ouvidos atentos,
Esperava
a qualquer momento ouvir do Mestre
A
permissão para que me apedrejassem.
Mas o sereno Senhor não se abalava.
Manso, escrevia qualquer coisa
Sobre a areia.
– Quem não tiver pecado,
Principie por apedrejar essa mulher.
Sua voz era uma espada cortante!
Fiquei esperando as pedradas
Que com louca fúria seriam lançadas
Até me fazer tombar no chão.
Mas algo inesperado aconteceu!
Lentamente os meus acusadores
Se dispersaram pelo caminho,
Porque não podiam ocultar do Mestre
Os seus corações,
Pois Ele, em sua onisciência, sabia
Que entre todos que ali estavam
Nem um justo sequer havia.
Levantei os olhos e o vi.
Quantos desejariam em meu lugar contemplar,
Entre a paisagem singela,
Jesus a escrever sobre a areia.
Se aquele momento durasse a vida inteira,
Não me enfadaria de contemplar aquele rosto sereno
E sua voz singular:
– Mulher, ninguém te condenou?
Nem eu tão pouco te condeno.
Vai em paz, e não peques mais.
Naquele mesmo dia, o vento passou
Varrendo meus pecados
E os lançou no esquecimento,
Mas a voz terna do Mestre amado
Pelo mundo inteiro ainda ressoa, dizendo:
– Vai em paz e não peques mais!
Fonte:
Margarete Solange,
O crente não
escolhe,
é um escolhido.
Queima
Bucha,
2011, p. 32